O primeiro foi o mais estranho de todos. As 14 horas do sábado, a campainha começou a tocar insistentemente. Acordou assustado e recebeu do carteiro a caixa com receios. Dentro dela, 8 caixas de papelão pequenas protegiam os liquidificadores.
Já não sabia o que fazer com eles no terceiro. Sucos, vasos, até música fez e colocou no myspace. Pensou em reclamar, mas a empresa de entregas cumpria apenas sua função. Ninguém se indentificava, ninguém sabia o motivo das entregas e ninguém se acusava pelo causo.
O fato é que já tinha recebido mais de 238 liquidificadores. Já não se incomodava com a nova rotina. Acorda, toma banho, café da manhã e recebe um lote de 4 a 5 caixas por dia, e a tendência é aumentar. Ja não deu conta da demanda que a idéia de revender gerou. Não dá mais conta de tantos liquidificadores.
O problema maior: eram todos do mesmo modelo. Nunca de cor diferente, nunca com outra função. Sempre tinham três velocidades e um botão pra picar gelo. Eram de cores branca e gelo, com os copos transparentes. Raramente davam qualquer problema.
Pensou em queimar todos eles quando já saturavam a garagem e os 8 metros quadrados do quarto vazio da casa. Arte moderna já não rolava pra acalmar os ânimos: tinha de se desfazer deles. Já tinha perdido os dois últimos dedos da mão esquerda na brincadeira.
Não conseguia nem gritar mais quando o ultimo ar lhe faltou. Morreu por incompetência administrativa.