Tuesday, May 29, 2007

Cinza.


O abraço tomou ares de último trago de cigarro. Com vontade aspirou e absorveu o resto de calor que ela lhe proporcionava, segurou na garganta a ponto de doer e soprou pra longe, mesmo destino da bituca. Não que o abraço terminara para ela, era apenas ele que apreciava o gosto ruim que a fumaça deixa na boca.

As cores dela esvaíram-se abruptamente, mas imperceptíveis. Acendeu outro cigarro, esse já mais saboroso, e as palavras que ela lhe cantava eram pano de fundo para o barulho da chuva. As gotas corriam pelo vento como as lágrimas dela não tardariam. Respirou fundo e tossui, pra nunca mais tossir, aquele resto de saudade que grudara por ali.

Caminhou pra fora do toldo e sentiu a chuva apalpar seu rosto. Por mais que tenha apagado o cigarro, a chuva o conheceu ali.

Wednesday, May 02, 2007

Quem sabe.


As singelas batidas da sola do sapato marrom claro denunciavam que pouco importaria se haveria chuva ou neve depois do fraco sol. Suficiente apenas para agitar o cachecol verde e bege em seu pescoço, o vento soprava-lhe a calma de que tudo daria certo. O contraste entre a flor vermelha e a rua sempre verde enobrecia seu caminhar.
Assim que passou pelo canteiro de rosas brancas estremeceu. Ele a viu por ali lendo por seus óculos de aro fino, sentada bem na frente do canteiro, alguns poemas e contos. Depois de um tempo fumaria com doçura e leve desprezo o cigarro, e quem sabe o chapéu vermelho ao lado não fosse apenas para que se o sol aumentasse. Em pouco tempo levantaria, arrumaria o cabelo castanho e, com os livros na bolsa lateral e o chapéu na outra mão andaria leve a ponto de fazer o tempo parar para que pudesse ir embora.
Corria para lá todos os dias, assim que a manhã começava a tomar os espaços da lua. Ela teria de voltar ao menos uma vez.