Apenas três bolinhas de ração por vez. Se mais, o peixinho amarelo comeria até explodir, e seria o terceiro animal de estimação que veria morrer desde a infância. Na mesa redonda de madeira escura, largou o regador e as luvas com que cuidara das plantas, e deixou que o vermelho do sofá a absorvesse junto do seu cansaço de dia todo.
Em pouco tempo, depois do banho morno, procurava os cantos da boca que lhe sorria por cima do ombro na memória, numa crua lembrança. Afagou os cabelos perto da nuca, cerrou os dedos e por capricho não ensaiou algumas lágrimas. Apagou a luz antes da coragem de abrir os olhos voltar, e como terapia, espalhou no caminho até o quarto incomodos rotineiros, caso da insistência do vizinho do prédio da frente que só via quando a observava melancólico.
Minutos depois das duas, a fraca luz do abajur desprezava parcialmente as almofadas no pé da cama, a mão fazia o papel de marca página quase ao meio do livro de escritor israelense, o vestido xadrez em verde escuro, creme e vermelho pendurado no dorso da cadeira antiga que herdou da avó faziam jus ao esforço que valia o aluguel do apartamento a um mês e meio.
Friday, January 11, 2008
Monday, January 07, 2008
Um.
Era só fechar as portas de vidro da varanda que barulho algum entrava ou saia. Mas as mantinha abertas, nunca é bom sufocar o trompete de miles davis que a vitrola gritava. O whisky pedia mais uma pedra de gelo como a parede uma nova mão de tinta, ambos negligênciados. A varanda era pequena com azulejos, e salvo o vaso com o pé de pimenta e a luz amarelada que fugia da sala com o jazz, estava só.
De braços largados ao parapeito e camisa semi aberta, pitava o cigarro ao vento do nono andar. A calça dobrada no tornozelo não chegava perto dos pés descalços. Vagava os olhos pelas janelas dos prédios da frente, depois do minhocão, e a mesma senhora triste pelo bingos fechados, o mesmo casamento que sempre tentava e nunca conseguia acabar de vez, a mesma prostituta de cabelos descoloridos e roupa vermelha, o mesmo grafite prevendo o apocalypse e o mesmo viciado cheirando em cima da televisão compunham a paisagem.
Menos ela. Destoava com seu cabelo preso e a mesura com que regava suas plantas, o colorido do pedaço do quadro da sala junto com o sofá vermelho. Verdade que nunca olhou praquela janela. Eram mais de onze, a garrafa por acabar e ali o motivo de arrastar uma cadeira pra varanda todo fim de noite não padeceria logo. Da sacada do quinto andar, ela sorriu pras plantas e fechou as portas. Ainda vazavam feiches de luz por elas quando decidiu dormir na varanda e esperá-la.
De braços largados ao parapeito e camisa semi aberta, pitava o cigarro ao vento do nono andar. A calça dobrada no tornozelo não chegava perto dos pés descalços. Vagava os olhos pelas janelas dos prédios da frente, depois do minhocão, e a mesma senhora triste pelo bingos fechados, o mesmo casamento que sempre tentava e nunca conseguia acabar de vez, a mesma prostituta de cabelos descoloridos e roupa vermelha, o mesmo grafite prevendo o apocalypse e o mesmo viciado cheirando em cima da televisão compunham a paisagem.
Menos ela. Destoava com seu cabelo preso e a mesura com que regava suas plantas, o colorido do pedaço do quadro da sala junto com o sofá vermelho. Verdade que nunca olhou praquela janela. Eram mais de onze, a garrafa por acabar e ali o motivo de arrastar uma cadeira pra varanda todo fim de noite não padeceria logo. Da sacada do quinto andar, ela sorriu pras plantas e fechou as portas. Ainda vazavam feiches de luz por elas quando decidiu dormir na varanda e esperá-la.
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