Monday, January 07, 2008

Um.

Era só fechar as portas de vidro da varanda que barulho algum entrava ou saia. Mas as mantinha abertas, nunca é bom sufocar o trompete de miles davis que a vitrola gritava. O whisky pedia mais uma pedra de gelo como a parede uma nova mão de tinta, ambos negligênciados. A varanda era pequena com azulejos, e salvo o vaso com o pé de pimenta e a luz amarelada que fugia da sala com o jazz, estava só.

De braços largados ao parapeito e camisa semi aberta, pitava o cigarro ao vento do nono andar. A calça dobrada no tornozelo não chegava perto dos pés descalços. Vagava os olhos pelas janelas dos prédios da frente, depois do minhocão, e a mesma senhora triste pelo bingos fechados, o mesmo casamento que sempre tentava e nunca conseguia acabar de vez, a mesma prostituta de cabelos descoloridos e roupa vermelha, o mesmo grafite prevendo o apocalypse e o mesmo viciado cheirando em cima da televisão compunham a paisagem.

Menos ela. Destoava com seu cabelo preso e a mesura com que regava suas plantas, o colorido do pedaço do quadro da sala junto com o sofá vermelho. Verdade que nunca olhou praquela janela. Eram mais de onze, a garrafa por acabar e ali o motivo de arrastar uma cadeira pra varanda todo fim de noite não padeceria logo. Da sacada do quinto andar, ela sorriu pras plantas e fechou as portas. Ainda vazavam feiches de luz por elas quando decidiu dormir na varanda e esperá-la.

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