Friday, November 28, 2008

Sarjeta.

Descia a rua cantarolando música qualquer. Já era fria a madrugada cinza, e quase tropeçou numa garrafa vazia. Deu graças pela sorte de sair ileso e reparou na moça que chorava sentada na calçada. Quis ser gentil.

- Não se chora a essa hora por aqui. Essa hora, tudo é festa ou motivo para tal.

E entregou-lhe a pequena flor que pegou do chão quadras atrás. Só depois viu que uma das pétalas estava pisoteada. A moça nem o olhou. Seu choro já atingia o desespero. Soluçava e gritava ardido. Abaixou e pensou em recitar à ela um poema, mesmo que um ode ao choro.

- Vou lhe dizer algo bonito então.

Respirou fundo, estufou o peito e releu mentalmente o curto poema pra que nada se esquecesse. Enchendo-se de sorrisos, não reparou que a moça colocava com esmero o longo cano na boca. Antes de articular a primeira palavra, espirraram-lhe sangue e míudos pedaços de cérebro. Continuou ali até a chegada da polícia, repetindo o mesmo verso:

- A menina que hoje chora. A menina que hoje chora. A menina que hoje chora.

2 comments:

Sarah Germano said...

UAU!
devia filmar isso!
beijo

li;; said...

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acabei por não mandar as cartas, mas não por falta de vontade -ou coragem-
só por falta e tempo, quando não esquecimento.


mas ficam minhas intensões sinceras
e meu desejo, quase tão sangrento como seus escritos, de que o ano que vem seja melhor!

=]
=*