Friday, April 10, 2009

Roteiro do não dito.


O chá de boldo amargava as xícaras quando Ana resolveu abrir as janelas. O pouco de sol não resolveu enquanto houveram nuvens, densas e frias.

Aos cães, sobravam as sinfonias da lua cheia. A noite forasteira e repentina mal deixou a polenta e o arroz ficarem prontos. Das velas e pequenas lâmpadas (dos abajures dos cantos da sala), luzes coloriam as retinas. Corujas piavam quando Roberto chegou.

[...]

Cauterizados pelo gosto do vinho, alguém discordou da salada de rúcula enquanto o fogo já consumia as cadeiras, mesas e a prateleira das louças.

- As cebolas são o problema. Ou talvez os alhos e o limão, não sei ao certo.
- Talvez seja melhor fazer peixe.
- Com fome ainda?
- Sinto muita fome pela manhã.

[...]
De tolhas sentados na cama, fumando cigarros fedidos e cheirando vinho, surgiu a discórdia quanto ao tempo dos lados dos vinis.

- Cansei de Billie Holiday. Um lado de Guizado?
- Um lado do seu melhor vinho garçom.
- A senhorita dança muito bem para uma polaca.
- São estímulos mútuos, senhorito.

[...]

- Não tocou na quínua e nos pães, nem no leite.
- Enchi as garrafas e peguei os bilhetes. Tomemos um sorvete?
- De framboesa e limão?
- De laranja com fotografias.

[...]

Pensou pra si:
- O que fazer com as corujas?
- Quer café?

2 comments:

Anonymous said...

sim, por favor. E mais um cigarro.

Unknown said...

Nossa.. linguagem intima demais para minha compreensão.. suportaria a espera da sua fala para entender um pouco disso ao tecer a ideia sobre ... minha interpretação tem limites! rss
Mesmo precisando do dialogo para compreender.. acabei gostando do Não dito..
Uma amiga minha disse que às vezes faz bem ficar com o não dito.. incorporar o nao dito..
Ié possível!
Bjs
Lilian