Wednesday, February 14, 2007

Cúmplice.


Assistiu do sofá o iminente desfecho. Queria dizer lhe dizer que se ele fosse embora morreria, mas faltou substância pra passar no nó da glote. Enquanto ele selecionava minuciosamente os cds que levaria, preferia olhar sem estar ali, estava presa em lembranças. Deixou os Chicos e os Piazzollas que ela tanto gostava, levou os Tom Zés e os Los Hermanos e se esqueceu de Miles Davis e Edith Piaf. Ela fez questão de lembrá-lo de Egberto Gismonti, a dança daquelas cabeças fazia queimar os nervos e dilacerar os músculos sem ele.

Pegou seus quadros e deixou os vinhos, compraría-os em qualquer lugar de qualquer dia. Se portava como em uma grande liquidação, onde o custo das coisas que selecionava eram pedacinhos do seu eu.

O adeus foi breve e triste, mas caloroso, como em qualquer outra vez em que saiu de casa pra voltar. O espetáculo trágico de única apresentação deixou o autor/ator satisfeito e, no mesmo momento que descia as escadas, a platéia sucumbira a derreter em prantos até ser absorvida pelo vermelho do sofá.

4 comments:

Anonymous said...

O correto não seria "EMINENTE desfecho"?

Unknown said...

ae pedro
se liga, blog pessoal do danilão pra escrever as "coisa" q nos ocorre!
flw ae
http://semressaca.blogspot.com/

pracchia said...

Meu caro anônimo, agradeço a leitura. Mas o correto nesse contexto seria iminente.

O desfecho já era previsto, era questão de tempo se concretizar.

Anonymous said...

o correto seria iminente, mesmo.
A partilha, né.


preparando-me para escritas a quatro mãos e dois corações.
beijo, até mais.