Abreem-se as cortinas:
Eu e Você estão nus na dormindo na cama abraçados. Você levanta e se veste lentamente. Por fim, coloca o vinil de Chico Buarque pra tocar e sai sem que Eu perceba.
Da platéia, uma lágrima corre em meu rosto.
O acaso entra pela janela e acorda Eu com a chuva. Eu se levanta, fecha a janela e senta na cama aturdido.
Nós:
- Cada vez que nos perdemos foi sincera e necessária. A menor das fissuras que causamos a nós deixou escapar as nossas consciências o quanto nos precisamos.
Eu bebe o conhaque e acende um cigarro. A cena escurece lentamente enquanto o vinil ainda toca abafado pelo barulho da chuva.
A luz volta com Você ensopada de chuva.
Diz:
- Eu voltei pra ti.
Eu, bêbado no sofá, retruca:
- Mentira. Você volta pra me assombrar, não és real. Já entrou por essa porta, pela janela e pelo teto mais de cem vezes num só dia.
Você:
- O que estás dizendo se bêbado tolo? Voltei pra ti porque te amo. Porque voltei a crer em nós. Vem cá pra mim.
Eu:
- Se afasta mentirosa.
Enfurecido, pega a arma na gaveta e atira em Você, que cai no meio da cena. Eu senta em choque ao lado do corpo. O barulho de chuva aumenta. E a cena torna a escurecer.
A luz volta.
Eu e Você, cheia de sangue, estão abraçados no sofá. Eu está confuso.
- Você, não me deixará nunca não é mesmo?
Você responde risonha:
- Você é quem sabe disso. Estou aqui, em cada vão de seus pensamentos, em todo vazio de sua cabeça porque você a esvazia para mim. Você não me deixa ir.
- Já te joguei pra fora de minha cabeça pelas orelhas, - responde Eu - Ja te dei cordas pra se enforcar. E o que você fez? Redes e rendas por toda a minha mente!
Você suspira. E diz:
- Que mal há em deixar tua cabeça mais bonita?
Eu grita.
- Inferno!
E desata em tristeza.
Você levanta, coloca o vinil de Astor Piazzolla, Adios Nonino. Volta ao sofá e toma Eu em seus braços a consolá-lo.
Assisto do Teatro vazio. Olho para as outras cadeiras enquanto as cortinas se fecham.
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