Wednesday, June 27, 2007

Degustação.

Na cozinha, o pimentão era a forma de casar o aliche, sem pensar em nada senão em suas harmonias. O alho em finas fatias como lâminas inquieto percorria o azeite domado de ira enquanto o manjericão era triturado ciente de suas mazelas. Abraçaria o prato e elevaria seu sabor à ponto de introspecção, mesmo perdendo seus talos. O queijo e a noz moscada eram ralados e, ao mesmo tempo, os pimentões vermelhos se juntava ao alho na dança sobre o azeite sabendo que seria responsável pela carga de ousadia.

Tímido, em pouco tempo o aliche se desfez, amarronzando o molho que os tomates sem pele ao se desfazer propuseram junto ao todo. A água borbulhava seduzida com a idéia de cozer o macarrão gravata, que amaciou-se sem cerimônias. O prato foi servido à mesa com tinto forte aos convidados, que, sem pratos, serviram-se em cima de suas cabeças, mesmo na ausência de talheres. Enjerido as pressas, queimou-lhes as orelhas.

Esse texto faz parte dos que foram escritos em bloquinhos de papel com canetas bics. Tem algum tempo, mas amadureceu agora sem ter certeza disso.

3 comments:

Anonymous said...

o melhor texto que você já fez.

Gustavo Ferreira said...

Muito bom velho!

Aquele abraço!

Tá linkado!

Iran's blog said...

Sensacional!!!
Posso colocar o link do seu blog no meu ?

Abraco