Friday, July 13, 2007

Meu eu.


Sentado no banco verde de madeira e largos parafusos, arrepiava-o cada murmúrio da gélida brisa que atingia-lhe a nuca, passando pela fina fresta entre seu casaco marrom claro e seu cachecol bege. Em plena decadência, seus cigarros vagabundos não eram os mesmo de outrora, e seus sapatos haviam perdido o brilho de outros tempos.

Os maus presságios vieram sorrateiros. Primeiro, desfizeram sua família. O emprego e as relações afetivas foram-se gradativamente na fumaça de sua arrogãncia. As mãos trêmulas viviam na falsa tentativa de não se arrepender de atos passados. Amarelos, dedos que nunca se conformaram de não serem aceitos, mas sim postos de lado.

Folheva o livro que achou no banco. Maltrapilho, estava ali com suas páginas passadas pelo mesmo motivo que ele: a falta de opções. Naquelas páginas encontrou a cor da praça cinza que estava. Mesmo que não soubesse ler aquelas palavras, ali estavam todos os seus caminhos tortos e idéias solas. Ali, no alcance da mão, estava seu eu.

2 comments:

.tamya.moreira. said...

Achei o link desse blog na comunidade da revista piauí.
E que achado!
Textos maravilhosos.
A leitura de "Desperdício" foi dilacerante.

Eu volto.

Pierrot le fou said...

Solidão... ler isso de manhã, depois de não ter dormido, de ter lido sobre duas tragédias (primeiro a da TAM, depois da morte do Flautista do Mombojó, que eu só soube neste dia), além dos pequenos problemas de cada dia, e ainda por cima estar voltando para Sampa dentro de alguns dias, é bem triste. Não preciso nem sair de casa para refletir sobre o meu estado de espírito, o meu passado e o meu futuro, que na verdade é o meu presente.