Tomou o café preto com omelete sem ler nada. O jornal atrasou 37 minutos naquela manhã. Chegou quando, já de banho tomado, arrumava a gravata e ligava pra reclamar da demora. Entendia as variáveis que permeavam a entrega, mas em três anos de assinatura, chegou sempre entre as quinze pras seis e seis e quinze. Passar trinta e sete minutos do limiar era demais. Não havia acontecido nada de extraordinário, nenhuma notícia que não passou no jornal da meia noite. Assinava o jornal apenas pra disfarçar a falta de companhia no café da manhã. De que adiantava chegar tão tarde?
Há três anos acorda sempre as quinze pras seis, mesmo nos fins de semana e feriados. Lê o jornal todas as manhãs com omelete (três ovos e um pouco de parmesão ralado) e café preto sem açúcar. Um banho ligeiro, faz a barba e veste-se enquanto vê o jornal da manhã na televisão. Rega com pouca água a pimenteira, parte da terapia que desenvolveu pra si, e deixa o lixo pra reciclagem.
Sem ler o jornal, não teve tempo de pensar no mercado financeiro durante o banho. Esqueceu de fazer um dos lados da costeleta por medo de se atrasar. Mal conseguiu entender as notícias do jornal da manhã. A gravata ficou torta, e derrubou a água do prato da pimenteira em cima dos sapatos que lustra todo domingo de manhã. Mandou o lixo ir trabalhar e deixou-se, como terapia, na reciclagem.
3 comments:
"Mandou o lixo ir trabalhar e deixou-se, como terapia, na reciclagem".
coisa mesmo do meu garoto!
bom por demais.
eu consigo ver aos detalhes a rotina desse moço. teu jogo de palavras é primoroso por demais. parabéns por tão belos posts :)
Post a Comment